Perfeitamente perfeito
Não quero mais viver, foi o que eu disse quando olhei para
baixo e senti um frio inesperado na espinha. Acima do ultimo andar do meu
prédio, no telhado, eu me vi com os pés sobre o limiar entre o seguro que
garantia minha vida e o perigo de uma queda de mais de quinze andares. Mas eu
desejava o seguro? O seguro quanto a minha vida era realmente o seguro quanto a
felicidade para mim? Não, pensei certo da resposta. Não queria mais viver. A
vida não era mais tão atraente e todos os caminhos, exceto o do fim, pareciam-me
conduzir a mais uma tortura, a mais uma decepção sem sentido, a mais lagrimas
incessantes, a mais ódio por mim e pelos outros.
Olhando para os carros abaixo, que circulavam pela rua
principal, deixei uma lagrima escapar. Senti vontade de gritar, mas até mesmo
no fim me segurei. Porque fiz isso? Por é tão difícil apenas gritar e mandar
tudo para o inferno? Eu não sabia a resposta, ou até sabia, mas o mero fato de
pensar nela doía ainda mais por dentro.
Vocês devem estar pensando porque estou fazendo isso. Porque
querer se matar, se jogar de um prédio e contemplar por um segundo a própria
visão se apagar para sempre. Bem, esse será meu testemunho de uma vida de
aparências. Aparências, eu não conseguiria pensar em uma definição melhor.
Quando nasci a minha tia Lucia dizia que eu era o bebe mais
lindo do mundo, que possuía um rostinho angelical que nenhum outro no hospital
tinha, e pelas minhas fotos de quando pequeno realmente eu era bastante...
engraçadinho. Eu cresci forte e saudável, passei pelo colegial como um campeão,
não exatamente nas notas, mas com certeza em questão de popularidade. Quando
terminei o ensino médio dei graças a deus por ter em fim acabado, já que havia
passado cinco anos nele, pois é, passei no primeiro ano me arrastando, mas no
segundo não tive muito sorte nas provas finais e acabei repetindo, no terceiro
aconteceu a mesma coisa e naquele ultimo e quinto ano do que deveriam ser
apenas três, lembro de já estar cansado daquela vida de estudante. Mas na época
não foi de todo o ruim o ensino médio, havia muitas garotas bonitas. Fiquei com
umas, namorei com outras, trai algumas, magoei todas, mas qual o problema com
isso? Pensava eu na época, afinal era jovem, deveria me divertir não? Dores
passam, feridas se curam afinal.
Mesmo não sendo um dos mais atraídos pelo conhecimento,
sempre me considerei um legitimo campeão na vida. Pais com boa renda
financeira, muitos amigos que faziam briga para andar ao meu lado, uma
aparência maneira, e que aparência eu tinha, nossa! Olhar no espelho era sempre
algo que me levantava o ânimo, ter toda aquela beleza não era para qualquer um,
certamente seria alguém que ofereceria muito ao mundo. Quanta arrogância, penso
hoje, porque ninguém disse isso para mim na época?
Em torno dos meus vinte e cinco anos, não entrei na
faculdade como a maioria dos meus amigos e ex-namoradas e ficantes. Claro que
não, porque eu iria? Detestava os livros, os professores, o maldito quadro, as
malditas carteiras, tudo que envolvesse o âmbito de uma sala de aula era apenas
sinônimos de chato, tedioso, monótono, desagradável. Então, em vez de entrar em
uma vida universitária, optei pelo caminho que achei mais experto, ou mais
fácil: trabalhar. Ganhar o meu dinheiro de uma vez, não perder tempo nas
paginas de um livro qualquer. Pelo menos parte de minha intenção era boa, e
comecei a trabalhar em uma gráfica que ficava na esquina da minha rua, mas não
como redator, técnico ou qualquer coisa do tipo, eu não tinha conhecimento
dessas coisas. Como poderia? Com isso, arrumei um trampo como faxineiro do
local. Era bastante puxado, cheguei a trabalhar assim até o meu primeiro
salário. Muito desgasto para pouco dinheiro. Resolvi me demitir. Que absurdo!
Foi o que eu disse ao gerente da gráfica. Como poderia alguém de tamanha beleza
como eu, um futuro grande modelo que viajaria e conheceria todo o mundo um dia,
pegar tanto no pesado e ganhar tão pouco? Não, isso não estava certo, pensei,
com um sentimento idiota de revolta. Então tive um estalo ao atravessar a rua e
ir para o conforto da minha casa. Eu era alguém de boa aparência, sabia disso,
sempre fiz sucesso utilizando-se disso, agora não seria diferente. E realmente
não foi, entrei em sites de revistas, de moda e afins, acabei vendo inscrições
em alguns para mandar fotos e pequenos depoimentos de minha vida pessoal.
Passei um bom tempo esperando algum resultado, uma resposta negativa que fosse,
mas uma resposta negativa não era aceitável, eu não ser escolhido era o cumulo
para mim, era como as obras de Michelangelo não serem agraciadas como algumas
das mais belas do mundo, um total absurdo. Passou mais alguns dias e então vi
um e-mail diferente na minha caixa de entrada, no topo de toda a lista inútil.
Ali estava a tão aguardada resposta. Cliquei e fiquei em estado de choque,
queriam fazer uma sessão comigo, tirar algumas fotos, ver como eu me comportava
diante de câmeras, então lá estava um endereço e o logotipo da empresa. Era a
hora de fazer o tão merecido sucesso.
Atravessei a rua entusiasmado, consumido pela alegria, dando
pequenos pulos de felicidade enquanto corria, estava obstinado a chegar lá
ainda de manhã, nada de esperar por depois, era realmente a hora de fazer
sucesso, mas a vida nunca é tão simples, e o soco forte dela me trouxe para uma
realidade em que nunca estive. Um carro desgovernado dirigido por um bêbado me
pegou em cheio, cai sobre o pára-brisas com a potencia do impacto, rolei pela
capota do carro e cai inerte no asfalto. Ainda estava acordado, sentia o gosto
do sangue, não conseguia me mover, quando outro carro que não conseguiu parar a
tempo por causa do transito e da velocidade a que estava, passou por cima de
mim. Pensei que morreria naquele momento. Um dos pneus em movimento passou pelo
meu rosto, senti minha carne queimando e sendo corroída pelo calor. Todo o meu
corpo fora moído no asfalto. Tive a plena certeza que iria morrer, mas o
terceiro carro que vinha no trânsito conseguiu frear antes de chegar até meu
miserável corpo, estirado no meio da rua.
Não lembro bem do tempo no hospital. Quer dizer, lembro
apenas de coisas distorcidas, algumas imagens, pessoas falando ao meu redor, e
principalmente da dor. A dor era o que mais me marcou naqueles dias, uma dor
insuportável que me dava a sensação de que meu rosto estava sendo imprensado
contra um ferro quente. Eu gritava, há e como gritava. Mas as horas, os dias e
os meses passam e eu parei de gritar, mas a sensação do ferro quente no meu
rosto não passara por completo. Quando finalmente fiquei lúcido o suficiente,
meus pais estavam lá, sorrindo em minha direção na cama, no entanto, não eram
sorrisos sinceros, pude notar, eles fingiam sorrir. Mas porque aquilo? Toquei
em meu rosto e percebi uma superfície estranha, então pedi que me trouxessem um
espelho. Ficaram chocados com o pedido, tentaram me convencer de que era melhor
não, de que não seria necessário. Não quis saber, eu insisti. Quando em fim o
trouxeram, tive receio em olhar meu reflexo, algo que jamais senti, mas eu
tinha que olhar, tinha que ver que superfície estranha era aquela que senti.
Quando criei coragem e abri os olhos diante do vidro espelhado, um vazio imediatamente
tomou conta da minha alma, não era eu ali e sim um monstro a qual não
reconhecia. Não havia nariz, nem sobrancelhas, podia ver a pele queimada, e a parte
da gengiva exposta por causa de um pedaço da boca que não mais existia. Eu
chorei até soluçar e me amaldiçoei durante toda a noite, me tornei agressivo
com qualquer um, tentando descontar o ódio que sentia e talvez, apenas talvez,
esperando acordar daquele interminável pesadelo. Não acordei...
Passado dias, foi me dado alta, e com isso fui pra minha
casa junto com meus pais, eles não agüentavam olhar para mim. Certa vez vi
minha mãe chorar e franzir a testa, ela sentia nojo. Quem podia culpá-la? Eu também
sentiria. Passei anos sem sair do quarto, meu único entretenimento era uma
pilha de livros velhos que encontrei dentro do armário, apesar de não gostar de
ler. Eu não queria encarar ninguém, nem conversar com ninguém. Minhas viagens
se resumiam a pegar comida escondido na cozinha, para que ninguém me visse, e a
ir ao banheiro. No banheiro eu tentava a todo custo não olhar no espelho acima
da pia, era inevitável, o monstro ainda continuava a me encarar. Em um acesso
de raiva passei a quebrar todos os espelhos de casa, odiava a mim mesmo, o meu
reflexo e o meu simples fato de viver.
Mas as feridas saram não é? Talvez não totalmente, mas quem
sabe o bastante para nos levantarmos, pensei com a convicção ainda um pouco
abalada depois de anos de reclusão. Era a hora de se levantar, e tentando
fingir que o rosto preso a minha cabeça não era real, enchi-me de esperança, da
perigosa e ilusória esperança. Tentei ao máximo me convencer de que minha
aparência não era tão feia quanto havia imaginado por tanto tempo, esse era o
efeito de não ver a imagem refletida durante anos, já que não havia mais
espelhos por parte alguma. Comecei simplesmente a imaginar que meu rosto era
igual a antes, sem defeitos, de pele macia, dono de uma bela fisionomia,
impecável. É incrível o que a reclusão pode fazer com a sua mente, o que
desejos podem fazer a ponto de se tornarem verdades em sua cabeça, eu havia
suprimido no fundo da minha consciência a minha drástica situação. Então abri a
porta de meu apartamento e sai, desci para a rua...
Assim como no hospital, também não lembro muito bem dessa
parte, lembro apenas de coisas desconexas, separadas como um quebra cabeças.
Lembro de uma cena em que estava parado no escritório da empresa de moda que
anteriormente havia me enviado um e-mail, muitos anos antes do terrível
acidente. Falei para as atendentes que eu estava ali para a sessão de fotos. É
estranho como parecemos loucos as vezes, principalmente quando estamos
desesperados. Elas me encararam, viram minha feiúra e gritaram pedindo socorro.
O barulho estridente dos gritos me levou de volta para o mundo real, então
percebi o que estava fazendo. O que diabos dera em mim? Eu corri, corri o
máximo que podia para a porta, contudo, senti algo me agarrar pela gola e me levar
com as costas ao chão em uma pancada forte. Um cara musculoso vestido de preto,
o segurança provavelmente, me havia imobilizado. Percebi a sua expressão de
horror ao ficar face a face comigo. Não adiantava pedir desculpas ou tentar
explicar que apenas tive um surto, era inútil, eles não me escutavam, apenas viam
o monstro sobre meu rosto e nada mais.
Nessa hora, imobilizado, vendo ligarem para a polícia, eu me
lembrei de um livro que li durante meus anos de reclusão no meu próprio quarto:
Frankenstein, de Mary Shelley. Eu o havia encontrado entre uma pilha de livros
velhos como eu já disse, dentro do meu guarda roupa, provavelmente perdido por
meu pai a muitos anos, já que ele era o único da família que gostava de ler.
Fiquei relutante em lê-lo quando o tive em mãos, afinal, jamais havia lido um
livro inteiro em toda minha vida, mas o que mais eu poderia fazer? Eu não
poderia ser o mesmo de antes, eu não era mais o mesmo de antes. Eu o li com
dificuldade por causa da linguagem arcaica que possuía, e ao chegar ao tão
demorado fim, de alguma maneira consegui me identificar, mas não sabia o
porque, nem ao menos ousei levar em frente tal sentimento. Mas foi ali, deitado
no chão, tendo o segurança me pressionando contra o piso, que entendi. Porque
eu não entendi antes? Eu era o monstro, mas não apenas isso, eu estava sendo
injustiçado assim como o monstro de Victor Frankenstein foi, e mesmo que eu
pedisse desculpas não adiantaria, mesmo que eu explicasse tudo não adiantaria, eles
viriam com tochas e foices para me pegar, porque eu era diferente, uma peça que
não fazia falta no jogo de xadrez que era a sociedade. Uma peça inútil,
disforme, que não tinha função no tabuleiro.
A policia chegou e me fez algumas perguntas. Porque eu
estava ali... O que havia acontecido comigo...
Respondi o que queriam e logo depois me liberaram, não tinham
nada contra mim, mas pude sentir o nojo nos olhos de um daqueles oficiais da
lei, ele evitava chegar perto, tive a sensação de que por muito pouco não
cuspiu no meu rosto ou no que sobrou dele. Quando cheguei em casa já era de
noite, meus pais haviam saído, tinham deixado a chave dentro do arbusto com
vaso que ficava ao lado da porta do apartamento como sempre faziam. Quando
entrei naquele cômodo vazio e silencioso vi uma carta sobre a mesa da sala de
jantar. Eu a peguei. Tinha sido escrita as presas, pude perceber pela grafia
corrida no papel pautado. Ela dizia que meus pais tinham saído à viagem para
uma cidade distante e que muito provavelmente demorariam alguns dias para
voltar. Eles voltariam mesmo? Eu pensei, refleti seriamente. Teria minha
aparência medonha afastado até aqueles que me trouxeram ao mundo? As questões
saltavam em minha mente até não poder mais contê-las. Eu estremeci, chorei,
gritei, soquei a parede mais próxima até meus punhos sangrarem. Enquanto ainda
socava freneticamente, me recordei de Edmond Dantés, personagem de O conde de
Monte Cristo, escrito por Alexandre Dumas. Ah como Dantés era sedento por
vingança. O meu encontro com esse personagem icônico foi logo depois de
Frankenstein. O encontrei na mesma pilha de livros velhos. Não tinha nada
melhor para fazer, então porque não? Porque não lê-lo? talvez levasse para
longe um pouco da dor. Por algum motivo também me identifiquei com ele e com sua
sede voraz pelo sangue daqueles que havia lhe virado as costas. Recordei-me
também do livro Psicose de Robert Bloch. Pobre Norman Bates, ele era apenas
mais uma vitima de toda a sua vida cruel, alguém que nada poderia fazer senão
acompanhar toda a loucura que lhe era imposta. Continuei socando a parede,
continuei até não sentir mais a pele se rasgando ou os ossos doendo dentro da
carne. A parede branca, soco após soco, era tingida de vermelho...
Casado de tudo, subi as escadas de emergência do edifício,
quando alcancei o telhado, senti o vento da noite bater em meu rosto, ele me
chamava e quase o senti me afastando para trás, me impedindo de seguir em
frente. Enquanto caminhava para o parapeito, o limiar entre o seguro da vida e
o perigo de uma queda de mais de quinze andares, pensei no que deveria fazer.
Pensei no monstro de Frankenstein que soube que seria preciso morrer, não para
alcançar a felicidade, visto que essa era impossível, mas para cessar o seu
sofrer. Isso mim fez andar mais rapidamente para o fim derradeiro. Então a
imagem de Norman Bates me veio a mente. é isso, tive a certeza, ou acabo com
tudo agora mesmo ou vivo o bastante para me tornar algo que não sou.
Estanquei sobre o parapeito, deixei lagrimas escaparem, uma
delas caiu do prédio e se perdeu na imensidão da cidade. Olhando para baixo,
para a rua movimentada de carros, Edmond Dantés também me veio a mente, ele
conseguira sua vingança contra alguns, mas perdoara outros. Porque? A questão
me afrontava. Dizem que quando você está perto de morrer toda a sua vida se
passa através de seus olhos, mas não foi exatamente a vida que passou, mas
apenas momentos, os instantes que passei recluso no quarto. Eu não entendia
como momentos tão dolorosos poderiam preencher a mente um pouco antes da morte.
Eram imagens mentais de eu lendo Alice no País das Maravilhas em cima de minha
cama no exato momento em que me deliciava (deliciava? Que palavra estranha para
si dizer, disse a mim mesmo enquanto ainda olhava para baixo, o medo se
apossava de mim aos poucos) com uma passagem de Alice e o gato risonho:
“Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para
sair daqui? -perguntou Alice.
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o
gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o
gato.”
Tenho um caminho que eu queira seguir? Me perguntei, já não
tão certo do que estava fazendo. Então olhei para cima e percebi com surpresa o
trivial, o céu era o mesmo de ontem, as estrelas também, assim como as nuvens que
ainda estavam lá, e não pareciam diferentes. Percebendo isso, lembrei da figura
do grande espadachim Miyamoto Musashi, do livro de Eiji Yoshikawa, com os
dizeres logo no inicio da obra:
“e depois de tudo, céu e terra ai estão, como se nada
tivesse acontecido...”
Era fato. Mataria-me e nada iria mudar. O mundo continuaria
sempre sendo o mundo, e as pessoas sempre sendo as pessoas. A vida seguiria o
seu ciclo infinito e eu nada aproveitaria porque estaria morto, incapaz de
sentir futuras alegrias. Era fato que até mesmo o monstro de Frankenstein, em
meio a sua amargura, teve a sua pequena cota de alegrias e desfrutou de
pequenos sorrisos. Talvez a vida fosse mais do que a aparência. Imediatamente
também me sobreveio Nietzsche, com uma de suas celebres frases:
“As convicções são
inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”
Comecei a pensar que minhas convicções anteriores talvez não
estivessem assim tão certas. Sim, a imagem de varias outras frases de vários
outros livros me vieram a mente como a enxurrada de uma cachoeira, de alguma
forma me proporcionando cada vez mais motivos para dar passos para trás, se
afastar do limiar do perigo, da queda da qual não haveria salvação.
Dei-me conta da grande quantidade de livros que li naquele
meu quarto. Nesse instante fugidio percebi a presença de algo a mais dentro de
mim mesmo, eu estava preenchido, um mundo havia nascido dentro de mim mesmo, um
mundo maior e novo que quase podia ver, ouvir e tocar. Percebi que algo
estranho havia acontecido. Fingira ser o mesmo por tanto tempo, querendo se
apegar ao que já se foi, mas eu havia mudado, eu não tinha mais aquele rosto
perfeito. Era realmente perfeito? Já não sabia, ou melhor, algo dentro de mim sabia,
tinha a certeza de que não. Porque? Não soube responder, mas sentia, de alguma
forma sentia.
Desta vez foi o céu que estremeceu. Um barulho estrondoso
ecoou entre as nuvens. Os pingos desceram acanhados e em pouco numero. Eles se
chocaram contra o meu rosto. fechei os olhos. Permiti-me senti-los deslizando sobre
minha face. A chuva fraca logo se tornara poderosa, os pingos se multiplicavam
e batiam com força. Aquele era um novo inicio, algo que eu ainda não entendia
havia acontecido e me convencido disso, e naquele instante único, sobre a
chuva, eu ousei sorrir e ser feliz. Meu antigo reflexo morrera, um novo
nascera. Ao perder, ganhei. Não havia me dado conta até então. O que é
importante ao homem? Me perguntei olhando para a sublime chuva. Não havia uma
única resposta, mas eu vi, sem duvidas eu vi, em meio a escuridão que fora toda
a minha vida, um ser, agachado nas sombras, e ele era eu, havia me encontrado.
Finalmente eu era perfeito.
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